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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

NOVA MISSÃO A MARTE É DE ALTO RISCO, ADVERTE ESPECIALISTA

O astrônomo britânico que líderou uma missão fracassada a Marte, a Beagle 2, disse ao programa Material World da BBC Radio 4 que a nova missão americana ao Planeta Vermelho, o Mars Science Laboratory, é de altíssimo risco. 



Cratera Gale, onde o robô Curiosity deve pousar em Marte. Imagem: Nasa/Divulgação
Colin Pillinger, professor de Ciências Planetárias da Open University da Grã-Bretanha, comentou que nesta sexta-feira, um dia antes do dia marcado para o lançamento da nova missão americana, o clima entre seus colegas na Nasa deve ser de preocupação. 

Desde a década de 1960, dezenas de missões robóticas foram direcionadas a Marte, com o intuito de coletar informações sobre as condições do planeta e sua história, além de abrir caminho para uma possível missão tripulada. 

A maior parte dessas missões fracassou, levando cientistas a ponderar, brincando, sobre a existência de um grande diabo galáctico que se alimentaria de sondas enviadas a Marte. Outros falam da "maldição" do Planeta Vermelho. 

O caso mais recente de missão fracassada a Marte - ou quase fracassada, já que os cientistas ainda estão tentando salvá-la - foi o lançamento da sonda russa Phobos-Grunt, no dia 9 de novembro. 

Apesar de ter sido lançada com sucesso, os cientistas russos não conseguiram colocar a nave na direção correta (seu destino seria uma das luas de Marte) e a missão está presa na órbita da Terra. 

Depois de duas semanas de tentativas, a Agência Espacial Europeia conseguiu estabelecer contato com a sonda.

Agora, a agência europeia está trabalhando com cientistas russos para identificar o problema da sonda e consertar seu motor. 

"Eles não conseguem dar ignição no motor", disse Pillinger. "As baterias da nave estão acabando e uma vez que isso aconteça, será o fim da missão". 

Ele explicou que o caso da missão liderada por ele, a Beagle 2, lançada em 2003, foi diferente: 

"A Beagle chegou a Marte mas foi na descida que o problema aconteceu. A descida é sempre a fase mais difícil." 

Pillinger disse que o grande desafio em missões como essas não é necessariamente a distância. 

"Podemos ir muito mais longe. Hoje mesmo estávamos discutindo a possibilidade de irmos às luas do planeta gigante (Júpiter) para reexaminar Europa e buscar evidências de vida lá". 

Pillinger explicou que quanto mais longe vai uma missão espacial, mais falhas acontecem. 

"Cada uma dessas falhas, se você não consegue resolver o problema, significa o fim da missão", explicou. 

A estratégia usada pelos cientistas é criar duplicatas de cada sistema. Quando um aparelho falha, o outro assume seu lugar. 

"Você constrói as naves com a maior quantidade de sistemas duplicados possível, mas há um limite, porque quanto mais você constrói, maior e mais complicada fica a nave", diz ele. 

"O problema da Beagle é que ela tinha tão pouca massa que não podíamos construir nenhum sistema duplicado", observa. 

"No caso da Phobos-Grunt, eles tinham alguns sistemas duplicados, mas não tinham um sistema duplicado na área de telecomunicações da nave." 

Neste sábado, os americanos estão lançando a missão Mars Science Laboratory, cuja estrela é a imensa sonda Curiosity. 

Pillinger disse que a missão enfrenta agora riscos muito altos. 

"A Nasa descobriu no passado que é um risco alto aterrissar em Marte, e a maioria dos êxitos alcançados foram situações onde havia duas naves duplicando o sistema inteiro", disse. "Assim, se uma dá errado, eles aprendem com isso e asseguram que a outra tem melhores chances." 

"Eles estão preparados para fazer isso com as últimas sondas que enviaram a Marte. Eles esperavam aterrissar a Spirit em uma parte mais tranquila de Marte na antecipação de que aprenderiam mais com essa missão para depois lançarem a Opportunity a um ponto geológico mais interessante. No final, as duas quebraram", explica. 

Na verdade, a sonda Opportunity não quebrou. Depois de cerca de sete anos explorando Marte, ela se prepara para enfrentar o rigoroso inverno marciano e os cientistas da Nasa não acreditam que a sonda sobreviva ao frio extremo. 

"Dois terços das missões fracassam", disse Pillinger. Quanto às chances de sucesso da nova missão americana, Pillinger hesitou em arriscar um palpite. 

"As chances são tão boas quanto os engenheiros puderem assegurar. Você testa, testa e testa e nunca lança algo que não tenha chances de sucesso", disse 

Pillinger contou que a nova missão é um grande experimento. "Eles vão testar um novo sistema de aterrissagem." 

"A Curiosity é do tamanho de um carro pequeno, o maior veículo já lançado. Já a Beagle 2 era do tamanho de uma roda de carro", observa. 

"Na Beagle, nós usamos um sistema em que a nave é embalada com sacos cheios de gás e acoplada a um paraquedas. Quando ela toca o chão, ela joga os sacos fora e vai embora", disse. 

"Dessa vez, eles vão sobrevoar o local e baixar o veículo com cabos. Quando a sonda tocar o chão, vão cortar os cabos", explica. "É um grande experimento, e de alto risco. Eles têm uma chance única de sucesso." 

"Alguns engenheiros da Nasa devem estar extremamente preocupados, mas devem estar também confiantes de que fizeram o melhor possível", disse. 

O grande tamanho da sonda Curiosity se deve ao fato de que ela não será movida a energia solar. O robô é munido de um gerador radioativo que lhe fornece energia constantemente, permitindo que ele viaje para mais longe e mais rapidamente. 

E enquanto explora Marte, o robô estará procurando respostas para a pergunta que há muito tempo os cientistas tentam responder: haveria sinais de vida no Planeta Vermelho? 

"Eles vão fazer experimentos que vão contribuir muito nessa direção", disse Pillinger. "Está carregando exatamente os instrumentos que eu teria escolhido." 

Fonte: Estadão

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